"2 números" - Sofisticação e simplicidade para todos os públicos
(...) Teatro Portátil parece se localizar neste panorama ao lado da cena de conceito mais experimental. A tomar pelo espetáculo apresentado no FIT, eles chegam “informados” por instrumentos diversos, que vão da própria tradição do boneco ao teatro físico, passando pelas artes plásticas, pela música e pela dança. Entretanto, o que desperta o interesse não é exatamente o uso de meios tão diferentes, mas a síntese precisa a que o grupo chega. Nela é possível notar a aplicação deste repertório em medidas calculadas e a favor de uma comunicação a um só tempo fluente e de grande empatia.
São dois os números, mas a representação começa com um prólogo auto-irônico. Uma cobra, em diálogo impertinente com a atriz, insiste em representar Hamlet, fazendo pouco caso da possibilidade de expressão através de bonecos e formas. O espetáculo segue o prometido anunciando a metalinguagem que vai encontrar variações das mais curiosas: primeiro (“Cama de Gato”), uma sequência de máscaras e depois a exploração, pelos três personagens, de uma corda de algodão que é literalmente trans-formada em uma infinidade de objetos, motivando as situações. O que dá graça e estimula a curiosidade, além do jogo de “monta-desmonta”, é o gosto pela plasticidade dos movimentos, aparentemente aleatórios, mas construídos em um desenho muito rigoroso; e pelo ritmo, que marca a evolução dos gestos em um quadro que visto no conjunto quase emociona: pelo lúdico das figuras que saltam do nada e pela dinâmica tão azeitada e precisa.
O segundo número (“De dentro”) tem eixo narrativo mais firme, em que um boneco articulado, manipulado pelo elenco, sai da caixa para o mundo. Ora acompanhando a trajetória de descobertas dele, ora observando o desempenho dos atores em sua delicada e rigorosa sintonia, a platéia é levada a um estado de suspensão poética comovente - pelo que se pode colher de terno nas duas direções do olhar. Não é que haja ali uma história, em si, comovente. É que há um efeito de suspensão da descrença que nos chega na admiração pelo empenho dos que, a olhos vistos, trabalham para que ele se dê de uma maneira tão inequívoca, direta, simples. (...)
São dois os números, mas a representação começa com um prólogo auto-irônico. Uma cobra, em diálogo impertinente com a atriz, insiste em representar Hamlet, fazendo pouco caso da possibilidade de expressão através de bonecos e formas. O espetáculo segue o prometido anunciando a metalinguagem que vai encontrar variações das mais curiosas: primeiro (“Cama de Gato”), uma sequência de máscaras e depois a exploração, pelos três personagens, de uma corda de algodão que é literalmente trans-formada em uma infinidade de objetos, motivando as situações. O que dá graça e estimula a curiosidade, além do jogo de “monta-desmonta”, é o gosto pela plasticidade dos movimentos, aparentemente aleatórios, mas construídos em um desenho muito rigoroso; e pelo ritmo, que marca a evolução dos gestos em um quadro que visto no conjunto quase emociona: pelo lúdico das figuras que saltam do nada e pela dinâmica tão azeitada e precisa.
O segundo número (“De dentro”) tem eixo narrativo mais firme, em que um boneco articulado, manipulado pelo elenco, sai da caixa para o mundo. Ora acompanhando a trajetória de descobertas dele, ora observando o desempenho dos atores em sua delicada e rigorosa sintonia, a platéia é levada a um estado de suspensão poética comovente - pelo que se pode colher de terno nas duas direções do olhar. Não é que haja ali uma história, em si, comovente. É que há um efeito de suspensão da descrença que nos chega na admiração pelo empenho dos que, a olhos vistos, trabalham para que ele se dê de uma maneira tão inequívoca, direta, simples. (...)
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